Lisboa em Azulejo

02. A FREGUESIA DE SANTIAGO

O espaço da actula freguesia de Santiago é seguramente, no espectro da cidade de Lisboa, daqueles onde a ocupação humana é mais antiga. São ainda visíveis vestígios dos povos que passaram por ali, sendo o mais marcante as ruínas do Teatro Romano. Enquanto paróquia não é possível determinar a data exacta da sua fundação - a referência mais antiga a Santiago data de 1299. É hoje em dia substancialmente maior do que no século XVII uma vez que ao seu território foram anexadas as freguesias de S. Bartolomeu, em 1770, e de S. Martinho, em 1836. (…)

No início do século XVII constata-se uma acentuada quebra demográfica com o número de habitantes em 1620 a descer para cerca de 400. E se este facto pode, em certa medida ser analisado como evidência de declínio, é também de salientar que são poucas as mudanças na vida da freguesia e no seu papel discreto mas presente dentro de Lisboa, assiste-se à construção de novas igrejas e reabilitação de antigas, o mesmo se verificando com os palácios da nobreza aí residente, de assinalar ainda a assinatura em 1668 no Convento dos Lóios do Tratado de Paz entre Portugal e Espanha. (…)

Poder-se-á dizer que Lisboa no século XVII é uma cidade que foi durante o período Filipino fortemente, e a vários níveis, desinvestida, fruto da política externa espanhola e de motivos decorrentes da relação ocupantes-ocupados; e que após a Restauração encontrou grandes dificuldades para se reerguer, quer pela Guerra da Restauração que se arrastou por cerca de 30 anos, quer pela própria dinâmica da cidade que não conseguia gerar desenvolvimento. (…)

Ainda que o reduzido número de dados existentes para a composição socioprofissional não permita fundamentar ou aprofundar qualquer tipo de conclusão; a informação recolhida de um modo geral confirma o retrato traçado para Santiago. Os militares constituem o grupo que surge em menor número o que se pode explicar pelo facto de não existir na freguesia nenhuma infra-estrutura militar. (…)

Pelo contrário a categoria dos Religiosos é aquela cuja homogeneidade na distribuição cronológica é mais evidente - o que se pode justificar pela presença do Convento dos Lóios. Nos cargos oficiais, ainda que não se verifique de forma tão regular, a homogeneidade também está patente. O grupo dos ofícios apesar de bem representado sofre uma redução drástica no número de efectivos na segunda metade do século que contrasta com a forte presença nos primeiros cinquenta anos. Essa mesma redução, de forma bem menos drástica, se verifica no grupo constituído pelos serviçaos sendo que este é o mais numeros. A estas categorias se acrescem os escravos e os nobres. São 160 escravos da paróquia - a maioria dos quais distribuídos por pequenos proprietários de 1 até 3 escravos, sendo 81 os proprietários. Indivíduos com título nobiliárquico são em número de 127, desse 14 usam o título de Dom e 102 de Dona, os restantes possuem outros títulos como por exemplo Conde e Condessa do Prado. Perante estes dados podemos afirmar que a distribuição profissional equitativa, mesmo para os grupo de elite, vai de encontro à realidade social acima referida - nomeadamente a fixação da aristocracia e a presença do clero. Também a evolução cronológica em cada uma das categorias sócio-profissionais se coaduna com o que atrás foi dito quer para a freguesia quer para a cidade. Assim, e não sendo suficiente o número de registos para deles se retirar qualquer conclusão, verifica-se que pelo menos eles não vão contra o retrato que se tem para Santiago. (…)

Santiago atravessa os anos de seiscentos e as suas atribulações conseguindo de uma forma ou de outra manter de maneira geral a sua estrutura social. São no entanto já indicadores de uma mudança os números que os registos paroquiais apresentam para a última década - que são uma inversão em relação à primeira. E que, pelo que eles significam em termos de reposição de efectivos, não seria uma mudança de carácter positivo.

 

Excerto do texto de Delminda Rijo e Francisco Moreira, “A freguesia de Santiago na Lisboa de seiscentos: um retrato social” - in Jornadas Demografia Histórica de Lisboa, 15 de Abril de 2008, Câmara Municipal de Lisboa / Gabinete de Estudos Olisiponenses - publicado online em: http://geo.cm-lisboa.pt

Consultar também o texto de Delminda Rijo "A antiga freguesia de Santiago. Estudo histórico-demográfico e social (1700-1755)" elaborado propositadamente para este projecto de investigação.

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