Lisboa em Azulejo

03. UM PALÁCIO EM SANTIAGO

A necessidade de melhor compreender a existência do Grande panorama de Lisboa leva-nos ao estudo da circunstância em que o mesmo nasce, sendo para essa análise necessário esclarecer alguns aspectos concernentes ao local para onde esta obra foi concebida, bem como traçar o perfil dos prováveis encomendadores (Rijo e Moreira, 2008).

De acordo com os estudos desenvolvidos por Júlio de Castilho, as casas hoje conhecidas por palácio Santiago eram, em meados do séc. XVII, pertença de D. João de Cárcome Lobo, cavaleiro professo da Ordem de Cristo (Castilho,1938, pp. 185-218), (Andrade, 1948, pp. 75-91). Segundo levantamento documental por nós efectuado, estas moradas foram vendidas a Álvaro Ferreira de Macedo, a 26 de Fevereiro de 1681, que à data vivia na Rua de Mataporcos (freguesia da Conceição Velha), sendo as ditas casas habitadas pela família, até ao ano de 1715. A aquisição das mesmas não terá sido pacífica, pois, em 1701, a família Cárcome Lobo ainda as disputava com Álvaro Ferreira de Macedo e, nos dois anos subsequentes, foram emitidas procurações, das quais se destaca a passada ao Dr. Francisco Aires Veloso, para tratar de negócios referentes à compra da dita morada (Castilho, 1938, pp. 185-218).

Entre os anos de 1692 e 1703, Álvaro Ferreira de Macedo consta dos “Róis de Confessados” da freguesia de Santiago, sempre na mesma habitação, localizada em referência alternada: ora na “Rua direita de Santiago”, ora no “largo assima da Igreja [de Santiago]”. O proprietário surge como titular do prédio urbano supra-referido, passando aparentemente a ser cabeça-de-casal, a partir de 1703, o filho Manuel Ferreira de Macedo. Após esta data, a restante família deixa de constar no referido arrolamento, figurando apenas no agregado familiar de Manuel Ferreira de Macedo, a saber, D. Helena de Lafetat Teles, sua mulher; D. Luísa de Távora, sua cunhada, e os vários filhos do casal.

Infelizmente perde-se o rasto da família nesta freguesia entre o ano de 1715 e o de 1728, data a partir da qual começa a figurar o nome de Marcos Vieira (f. 4 de Janeiro de 1730) como proprietário e residente do espaço, segundo o cruzamento de dados recolhidos quer nos “Róis de Confessados” da freguesia de Santiago, quer nos “Livros da Décima da Cidade”. Com efeito, até 1824, o local pertence aos descendentes de Vieira, encontrando-se por diversas vezes devoluto, ou mesmo chegando a ser arrendado a terceiros, como aconteceu entre 1760 e 1765 com D. Madalena Vicência Mascarenhas, senhora de Murça, ou, entre 1769 e 1772, com o desembargador António Alves da Cunha e Araújo.

 

 

in FLOR, Pedro; COUTINHO, Maria João Pereira; FERREIRA, Sílvia; FLOR, Susana Varela, "Grande panorama de Lisboa em Azulejo: novos contributos para a fixação da data, encomenda e autoria", Revista de História da Arte, nº 11, Lisboa, Instituto de História da Arte, 2014, pp. 87-105.

close